O humor contagiante de Jô Soares transforma «O Xangô de Baker Street» numa obra absolutamente irresistível. Figuras históricas como D. Pedro II, Sarah Bernhardt e Chiquinha Gonzaga cruzam-se com um Sherlock Holmes peculiarmente desajeitado que corre o risco de perder a virgindade com uma mulata irresistível, símbolo de um Brasil rebelde que desafia a austeridade da Londres Victoriana. A realidade e a ficção misturam-se no ambiente delicioso do Rio de Janeiro oitocentista, onde o famigerado detective se debate com a busca por um serial killer com predilecção por jovens atraentes e violinos raros. À medida que os cadáveres das jovens horrivelmente mutiladas vão aparecendo pela cidade, Sherlock Holmes vai-se rendendo aos encantos dos trópicos enquanto procura desvendar o mistério que o ilude.
Sobressai no livro o retrato pitoresco de uma personagem literária tão celebrada. Em vez de se cingir ao original, Jô Soares cria a sua própria versão de Sherlock Holmes, uma versão menos genial mas infinitamente mais divertida do detective que fala português com sotaque lusitano, inventa a caipirinha, usa roupa extravagante e seduz jovens nos jardins públicos. As suas deduções estão longe da infalibilidade tradicional, mas o que perde em coeficiente intelectual ganha em inteligência emocional, o que lhe permite usufruir plenamente dos prazeres que a vida tem para lhe oferecer num mundo novo com tanto para descobrir.
“O seu corpo começou a tremer, e subitamente, o impávido doutor Watson, ex-cirurgião do quinto regimento de fuzileiros de Nurthumberland, estava recurvado como um velho, rodopiando pela sala na tradicional postura de Omulu”.
Título: O Xangô de Baker Street
Autor: Jô Soares
Editora: Presença
Ano: 2013